“Leviathan III” conclui a trilogia feita por Christofer Johnsson para agradar seus fãs com uma abordagem ambiciosa e experimental, diferenciando-se dos dois álbuns anteriores ao explorar uma vasta gama de estilos musicais. Leia nossa resenha completa deste disco da lendária banda sueca Therion.
Introdução
A banda sueca Therion é um dos principais nomes do metal sinfônico atualmente.
Como uma das grandes metamorfoses musicais do heavy metal, a banda fundada por Christofer Johnsson em 1987 partiu de uma mistura de death, black e thrash metal inspirada nos clássicos “To Mega Therion” (1985) e “Into the Pandemonium” (1987), do lendário Celtic Frost, para uma musicalidade rica e variada com influências que vão de Richard Wagner e Pink Floyd a bandas de heavy metal dos anos 80, como Iron Maiden e Accept, e bandas de hard rock dos anos 70 como Scorpions, Uriah Heep e Judas Priest, além de vários grupos progressivos dos anos 70.
Ao longo destas quase quatro décadas, o Therion evoluiu seu estilo ao incorporar elementos orquestrais, como corais, músicos clássicos e até uma orquestra completa em suas apresentações, cunhando clássicos do metal sinfônico, em especial a tríade “Theli” (1996), “Vovin” (1998) e “Deggial” (2000).
Com a energia feroz e vulgar do heavy metal mesclada ao temor e reverência inspirada pelo erudito, o Therion criou um lugar de paixão e fascínio, sofisticada por definição, mas envolta em mistérios com suas próprias leis.
Hoje, vamos mergulhar em mais um de seus álbuns: “Leviathan III”. Este disco foi lançado no Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Napalm Records.
Therion e a Trilogia Leviathan
O Therion iniciou sua trilogia “Leviathan” em 2021, com um disco que nos transportava novamente para as sonoridades desenvolvidas em momentos brilhantes de sua discografia, principalmente nos álbuns “Theli” (1996), “Vovin” (1998), “Deggial” (2000), “Lemuria” (2004), e “Sirius B” (2004).
A intenção declarada de Christofer Johnsson era dar aos fãs o disco do Therion que eles sempre pediram, capturando o espírito das suas canções mais populares e a essência de sua sonoridade clássica junto a letras envolvendo mitologia e esoterismo, além de um forte acento folk.
Ou seja, tínhamos uma banda que olha para o próprio legado musical, dialogando com o passado sem a pretensão da transformação constante, apostando novamente em músicas diretas e com melodias envolventes.
O segundo álbum, “Leviathan II”, foi lançado em 26 de outubro de 2022, mas apesar de manter a abordagem da trabalho anterior, parecia um disco apressado. Johnsson descreve este disco como o mais atraente para os fãs antigos, mas, de certa forma, aos meus ouvidos, faltava profundidade aos temas e ao desenvolvimento dos arranjos que pareciam pouco lapidados.
A impressão era que ele queria explorar a excelente repercussão de “Leviathan” o mais rápido possível. Aos meus ouvidos, enquanto “Leviathan” se tornou o álbum mais forte do Therion desde “Sirius B”, a segunda parte, “Leviathan II”, parecia uma compilação de músicas que foram deixadas de lado na primeira parte.
Em 2023, a banda fez uma longa turnê pela América Latina após cancelarem uma turnê europeia devido a problemas com seu agente e os altos custos de turnê. Em 27 de abril de 2023, o Therion assinou com a Napalm Records e lançou “Leviathan III” em 15 de dezembro daquele mesmo ano.
O que o Therion diz de “Leviathan III”?
“Leviathan III” é o décimo nono álbum do Therion, lançado em 15 de dezembro de 2023 pela Napalm Records e que chega ao Brasil pelo selo Shinigami Records.
Em entrevista ao blog Teen AO, Christofer Johnsson declara que escreveu todos os materiais para Leviathan I, II e III nas mesmas sessões de composição entre 2019 e 2020. A base com bateria, baixo e guitarra foi gravada toda junta e apenas vocais, coro, orquestração e mixagem foram feitos separadamente.
Como a parte final da trilogia Leviathan, o álbum é descrito por Christofer Johnsson – que também é o produtor do disco – como o mais “experimental e ousado” da trilogia. A mixagem e a masterização ficaram à cargo Erik Mårtensson, no Mass Destruction Studio.
As letras, escritas por Per Albinsson, abordam temas apocalípticos, homenagens aos governantes do submundo e rituais místicos de várias mitologias: “Ninkigal”, por exemplo, refere-se à deusa suméria Ereshkigal; “Ruler Of Tamag” à lenda turca de Erlik; e “Ayahuasca” aos rituais xamânicos que utilizam o chá homônimo.
Em entrevista ao site Maximum Rock, Christofer Johnsson diz que, após mais de 30 anos de carreira e 16 álbuns, eles decidiram criar a trilogia “Leviathan” como uma forma de dar aos fãs o que eles queriam, ao invés de seguir apenas suas próprias preferências artísticas. “Leviathan III” é parte desse esforço para criar músicas que ressoem diretamente com os desejos dos fãs.
Nesta mesma entrevista ele reforça que “‘Leviathan III’ se distingue por explorar diferentes tipos de músicas e estilos musicais que a banda já havia experimentado ao longo dos anos”, e cita algumas faixas como exemplos desta observação: “Ninkigal” é descrita por ele como uma música frenética e complexa, que mistura diversos elementos e estilos; enquanto “Ruler of Tamag” é descrita como uma balada clássica/folk, bonita e delicada, contrastando com o estilo mais pesado de outras faixas.
Therion: Nosso Review de “Leviathan III”
“Leviathan III” conclui a terceira parte da trilogia em que o Therion fez uma espécie de ‘fan service’ com mais ousadia e experimentalismo que as duas partes anteriores, isso é um fato.
Se a primeira parte é, de longe, a melhor das três, mais voltada aos elementos mais cativantes de sua fase áurea, e a segunda parte, uma versão mais sombria e não tão bem acabada da primeira, esta terceira parte fica entre as duas na minha preferência pessoal, apesar de ser a parcela musicalmente mais interessante dda trilogia.
Mas veja bem, o fato de “Leviathan III” ser a parte musicalmente mais interessante da trilogia, não a torna a parte mais cativante. O que gera esta musicalidade provocadora é a fusão bem feita e mais sofisticada de elementos de metal sinfônico, rock dos anos 80 e death metal, evitando certos clichês saborosos de sua musicalidade que fizeram de “Leviathan I” tão envolvente e irresistível.
As composições variam de arranjos orquestrais grandiosos a elementos psicodélicos e rituais místicos, com arranjos e abordagens musicais que vão agradar fas desde Celtic Frost, a Nightwish e Queen e Jethro Tull.
O disco abre com “Ninkigal” mostrando um resumo desta observação, onde riffs pesados covivem com coros dramáticos e solos de guitarra melódicos. Mas é no contraste entre os vocais operísticos femininos e os guturais masculinos que a magia acontece, muito pela produção impecável que tirou o melhor de todo este atrito de contrastes. Uma abordagem que se repetirá em “Maleficium” (misturando a sonoridade do doom metal com coros neoclássicos, resultando em uma peça sombria e atmosférica) e “Nummo” (com oferece explosões de guitarra agressivas ao lado de melodias sofisticadas).
A complexidade da musicalidade de “Leviathan III” pode ser observada já na segunda composição. “Ruler of Tamag” se apresenta de forma quase cinematográfica, com arranjos orquestrais complexos e bem integrados, demonstrando a habilidade de Therion em mesclar metal com música clássica.
Por sua vez, “An Unsung Lament” é uma faixa de sete minutos que incorpora elementos de rock dos anos 80, mas com uma estrutura progressiva, como se o Queen e o ABBA se fundisse a uma versão sinfônica do Voivod em algum universo paralelo.
Continuando pela saga multifacetada de “Leviathan III”, ainda posso destacar a psicodelia de “Ayahuasca” (que se por um lado tem timbres de teclados discutíveis, por outro os riffs pesados compensam pela geometria afiada) e atmosfera ocultista e ritualística de “Midsommarblot” (uma composição imersiva, quase hipnótica, e com versatilidade nos arranjos que trazem até algo de flamenco/cigano para o jogo musical do Therion).
Mesmo com todos estes destaques no repertório, no geral, “Leviathan III” é um disco onde a primeira metade acachapante cria uma contraste com a segunda metade, fazendo dela menos interessante.
Tanto que das 11 composições, eu citei as cinco primeiras e apenas duas da segunda metade do repertório. Não que o restante seja ruim, elas mantém a coesão do disco, mas são genéricas se comparadas ao que ouvimos nas demais. “What Was Lost Shall Be Lost No More” é um perfeito exemplo disso: bom refrão, boas melodias, mas genérica perto do restante do trabalho.
Enfim, o Therion conseguiu fechar sua trilogia feita para os fãs com um álbum que, embora não seja o melhor de sua carreira, é certamente é bem interessante e não parece um cover de sim mesmo como aconteceu com “Leviathan II”.
Este terceiro capítulo de Leviathan contém até direções musicais com potencial de ser explorado com mais profundidade em próximos discos da banda onde Christofer Johnsson não esteja tão empenhado em recriar sua musicalidade do passado, com a essência do metal sinfônico que define a banda.
Observação: A edição nacional, à cargo da Shinigami Records, traz quatro faixas bônus não creditadas no tracklist, que formam o mesmo conjunto de bônus da edição japonesa de “Leviathan III”.
Top 3 de “Leviathan III”
- “Nummo”: pela sua intensidade e complexidade, exemplifica bem a habilidade de Therion em criar composições dinâmicas e envolventes;
- “Ruler of Tamag”: com seu início acústico climático que evolui para um som mais pesado e sombrio, sua construção progressiva e a combinação de vocais femininos sedutores e arranjos orquestrais combinam para criar a pura magia do Therion;
- “An Unsung Lament”: um épico com uma variedade de influências que vão da música oriental oriental, ao classic rock do Queen, cheio de transições e com um desenvolvimento musical que faz dela a faixa mais bem trabalhada do álbum.
Conclusão
Embora algumas faixas pareçam sobras de estúdio do primeiro disco, a maioria do repertório de “Leviathan III” apresenta uma estrutura bem trabalhada e cativante. Desta forma, “Leviathan III” conclui a trilogia com uma abordagem ambiciosa e experimental, diferenciando-se dos álbuns anteriores ao explorar uma vasta gama de estilos musicais.
Por fim, não é exagero dizer que “Leviathan III” reafirma o legado do Therion no metal sinfônico. Para os fãs de longa data, este álbum é uma adição valiosa à discografia da banda, mostrando que, mesmo após décadas, Therion continua a remodelar seu som com ousadia e criatividade.
E você, o que achou de “Leviathan III”?
Se você é fã de Therion ou do metal sinfônico, não deixe de ouvir “Leviathan III” e compartilhar suas impressões conosco! Qual é a sua faixa favorita do álbum? Comente abaixo e participe da discussão.
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