The Hellacopters: Review de “Grande Rock Revisited” (2024)

Dissecamos “Grande Rock Revisited”, uma celebração do clássico disco da banda sueca Hellacopters. A nova edição dupla traz uma versão remasterizada do disco original e uma outra versão com guitarras adicionais de Dregen, guitarrista original que deixou a banda na época em que trabalhavam neste disco. Venha relembrar a energia crua e melódica que marcou uma das melhores bandas do rock na virada do milênio.

Introdução

“Grande Rock”, lançado em 1999, é o terceiro álbum da banda sueca The Hellacopters. Este disco é marcado pela saída do guitarrista Dregen (também do Backyard Babies), um dos fundadores da banda ao lado de Nicke Andersson (baterista da banda de death metal Entombed), e pela entrada de Anders Lindström, também conhecido como Boba Lee Fett, para assumir o posto nas seis cordas.

Este álbum marcou uma nova fase para os Hellacopters, dando mais personalidade própria ao seu rock n’ roll enérgico e inspirado nos clássicos dos anos 1970, como Kiss, MC5, Motorhead, Ramones, Stooges e Alice Cooper. “Grande Rock” é um disco crú, cheio de ganchos melódicos saborosos e riffs de guitarra diretos, que deu ainda mais visibilidade internacional à banda, um crescimento que os levaria à Universal, gravadora gigantesca por onde lançariam o estupendo “High Visibility” (2000).

Em 2024, “Grande Rock” foi relançado com regravações e remasterização, numa edição dupla contendo dois discos: a gravação original num primeiro CD e a retrabalhada num segundo disco. Este formato foi lançado no Brasil pelo selo Shinigami Records em parceria com a Nuclear Blast e é sobre ele que falaremos ao longo deste texto.

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Hellacopters: Um Breve Biografia até “Grande Rock”

A banda Hellacopters foi formada em Estocolmo, na Suécia, em 1994, por Nicke Andersson, que era baterista da banda de death metal Entombed, juntamente com Dregen, guitarrista dos Backyard Babies, Kenny Håkansson no baixo e Robert Eriksson na bateria. A proposta era fundir punk rock, proto metal e garage rock à moda setentista com influências óbvias e declaradas.

O primeiro disco chegaria dois anos depois, com o título de “Supershitty to the Max!”. No ano seguinte foi a vez de “Payin’ the Dues” (1997) ganhar o mundo, reafirmando aquilo que fora ouvido no primeiro disco e consolidando-os como uma banda, de fato, e não apenas um projeto de músicos de bandas renomadas querendo se divertir.

O mais interessante é que com o lançamento do terceiro disco, “Grande Rock” (1999), o Hellacopters começou a se tornar uma banda mais famosa do que aquelas de onde seus fundadores vieram. Prova disso é que eles logo assinaram com a gravadora Universal, uma major da indústria da música, por onde lançariam seu próximo disco, o indispensável “High Visibility” (2000).

O Hellacopters continuou a lançar álbuns bem-recebidos, como “By the Grace of God” (2002) por exemplo, que mostraram uma evolução em seu som, incorporando elementos mais melódicos e uma melhor produção. A banda se separou em 2008, mas retornou em 2016.

Capa de “Grande Rock Revisited” do The Hellacopters: redescubra o clássico de 1999 com mixagens renovadas. Ouça agora!

“Grande Rock Revisited”: revisitando o terceiro do Hellacopters

A versão original de “Grande Rock” foi lançada em 17 de maio de 1999 e marcou uma fase de transição da banda (pela saída de Dregen). Tanto na formação quanto na maturação da sua musicalidade. As doze faixas do tracklist original eram todas compostas pela banda em conjunto e completavam quase trinta e oito minutos de música. Ou seja, eram faixas rápidas e diretas, como no bom e velho rock n roll lascivo de antigamente.

A formação da banda no álbum “Grande Rock” incluiu Nicke Andersson nos vocais e guitarras, Kenny Håkansson no baixo, Anders Lindström na guitarra e piano, e Robert Eriksson na bateria, mas ainda contou com contribuições adicionais de Matt McHellburger (harpa e vocais), Pike McWalleye (vocais e guitarra acústica), Zquaty (percussão) e Odd De Cologne (voz).

A trabalho em estúdio original foi realizado por Stefan Boman (mixagem e edição), Åsa Winzell (masterização) e Anders Lind (engenheiro de som) tendo a banda como um todo creditada pela produção. A arte do álbum foi elaborada por Ray Hill (pinstriping) e Lance Hammond (fotografia). No fim das contas “Grande Rock” alcançou a 10ª posição na Suécia e a 30ª na Finlândia.

Vinte e cinco anos depois o Hellacopters resolveu retrabalhar este disco. Eles relançaram “Grande Rock” sob o título “Grande Rock Revisited”, apresentando duas versões do álbum: contendo tanto o álbum original remasterizado quanto uma versão revisitada e remixada com guitarras adicionais de Dregen, além de percussão e piano adicionais e novas partes de backing vocals.

O repertório de “Grande Rock” foi remasterizado por Henke Jonsson e completamente remixado por Michael Ilbert no Hansa Studios, em Berlim, utilizando as fitas originais. O resultado traz uma mixagem mais equilibrada e camadas adicionais guitarra, imaginando como o álbum soaria se o guitarrista Dregen ainda estivesse na banda.

Ou seja, “Grande Rock Revisited” inclui tanto a versão original remasterizada quanto a nova versão remixada. Porém, o líder da banda, Nicke Andersson, alerta que só foram adicionadas guitarras à nova versão: “Todos nós amamos guitarras altas, mas não às custas da bateria e do baixo, que é basicamente a essência da mixagem original. São TODAS guitarras”.

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Hellacopters: Review de “Grande Rock Revisited”

Não há dúvidas que “Grande Rock” é um disco que transpira energia crua e atitude bruta,  mesmo que alguns fãs dos dois primeiros trabalhos da banda, à época, considerassem a leve mudança na abordagem (agora mais limpa das timbragens e menos grave nas afinações) uma traição com a identidade musical criada anteriormente.

De fato, se comparado aos dois discos anteriores, as músicas estavam embaladas de forma mais acessível, pois eles despiram-se de certos anacronismos propositais para registrar sua mistura crua e vigorosa do rock n’ roll em sua era de ouro. De certa maneira eles buscaram os timbres orgânicos do rock norte americano da primeira metade dos anos 1970, de Kiss e Alice Cooper, por exemplo. Algo bem definido em faixas como “Alright Already Now”, “Paul Stanley” e “The Devil Stole the Beat”.

O trabalho em estúdio foi determinante para trazer aquela energia retrô para o final dos anos 1990, e tirar todo o cheiro de mofo que a porposta poderia carregar consigo. Existe uma aura de álbuns como “Dressed to Kill”, do Kiss, ou de “Raw Power”, do Stooges, mas agora aditivados com combustível de alta octanagem.

Claro que a capa de motivos que remetem às bandas de southern rock e o título do álbum – “Grande Rock” – me trouxeram à mente outra referência, também lançada na primeira metade dos anos 1970: o genial “Rio Grande Mud”, do ZZ Top. Obviamente um nome que fica mais na referência do título que na influência musical. Se bem que alguns riffs de guitarra soam como os de Billy Gibbons em alta velocidade!

A mudança na formação, num instrumento tão importante quanto a guitarra refletiu, nesta abordagem renovada. Obviamente, a entrada de Anders Lindström (Boba) não comprometeu o resultado final, porém, seu estilo era bem diferente de Dregen, além dele ter trazido novos elementos para o jogo musical do Hellacopters, como alguns teclados bem inseridos. Este último é um elemento novo que contribui para a expansão dos horizontes sonoros da banda, diferentemente dos álbuns anteriores que eram mais calcados na mistura de punk rock com proto metal.

Ainda assim, aos meus ouvidos nada de muito importante foi alterado na musicalidade. São riffs empolgantes atirados em profusão e solos de guitarra afiadíssimos um atrás do outro. Algo bem marcado nas faixas “Welcome to Hell”, “Move Right Out of Here” e “Electric Index Eel”. Além da dupla de guitarras que inflama a musicalidade, não posso deixar de citar a sessão rítmica vibrante que sustenta toda essa visceralidade musical com precisão e coesão (o baterista Robert Eriksson impressiona em diversos momentos pela sua energia).

Este trabalho de resgate de “Grande Rock Revisited” faz justiça a um disco que mora num período de transição da discografia do Hellacopters, entre o radicalismo estético dos primeiros discos e a banda mais lapidada e de renome mundial que nasceu junto com “High Visibility” (2000).

A nova mixagem à partir das fitas originais que estão no primeiro CD destacaram mais o piano e a percussão, enriquecendo ainda mais a expansão da musicalidade da banda proposta neste disco. Além disso, temos um pouco mais de emoção transpirando destas músicas com o trabalho renovado em estúdio, imprimindo uma dose ainda maior de energia aos riffs e solos. De certa forma, a remixagem deu um toque mais sofisticado a “Grande Rock”, dando uma certa refinada na crueza da versão original.

Já a versão “Revisited” presente no segundo CD inclui guitarras adicionais gravadas pelo guitarrista original Dregen. Estas adições trazem uma nova camada de complexidade e intensidade às músicas. Isso quase nos mostra como seria uma versão alternativa da história, num universo paralelo onde Dregen permaneceu e gravou este disco. E realmente, a versão “Revisited”, de “Grande Rock” soa mais poderosa e atual, mostrando que este repertório passou com méritos pelo teste do tempo.

Neste sentido, não há como escolher uma versão deste trabalho. Na verdade, este conjunto oferecido em “Grande Rock Revisited”, o álbum duplo, nos dá uma visão autêntica e histórica do álbum, junto a uma nova perspectiva renovada destas músicas.

“Grande Rock Revisited”: Top 3

  1. “Welcome to Hell”: esta é a faixa mais melódica do disco, sendo um rock n’ roll que combina energia e melodia de forma cadenciada, lasciva e envolvente.
  2. “Paul Stanley”: uma clara homenagem ao Kiss, com riff certeiros, solo eletrizante onde o Hellacopters traz a proposta de “Dressed To Kill” ou “Hotter Than Hell” para sua identidade própria.
  3. “Action de Grâce”: um exemplo perfeito do estilo característico da banda, combinando guitarras poderosas e uma atitude de rock de garagem.

Conclusão

Em suma, “Grande Rock Revisited” é uma celebração, ou melhor, uma reparação histórica ao álbum original, trazendo uma nova vida às músicas com mixagens e adições modernas a este que é um dos três melhores discos do Hellacopters na minha opnião.

Aproveite que esta edição dupla foi lançada no Brasil pela Shinigami Records, e veja como o Hellacopters saudava o novo milênio com os dois pés fincados nos anos 1970!

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