“The Weight of the Mask” é mais que um álbum; é uma experiência visceral que funde o post-hardcore e o blackgaze pelo calor das emoções cruas. Com profundidade técnica e criatividade o Svalbard se estabelece como um dos grandes nomes da música extrema no Reino Unido. Neste seu quarto álbum de estúdio eles exploram musicalidade forte e temas líricos fortes.
Introdução
Confesso que muito do heavy metal moderno, em qualquer uma de suas vertentes, pouco me agrada. A maioria parece transitar entre fundos musicais inócuos e manifestos emocionais que podem significar qualquer coisa ou nada. Porém, “The Weight of the Mask” da banda britânica Svalbard chamou a atenção pela profundidade musical e lírica.
Lançado no Brasil sob a chancela da Shinigami Records, em parceria com a Nuclear Blast, este trabalho é uma jornada emocional autêntica, moldada pelas mãos habilidosas do produtor Lewis Johns. Mergulhando em temas como depressão, doenças mentais e a contínua busca por autenticidade, Svalbard oferece uma experiência sonora que me desafiou tanto quanto me cativou.
Hoje quero dissecar um pouco mais sobre a banda Svalbard e seu “The Weight of the Mask”.
Svalbard
Existem ao menos três bandas no mundo hoje com o nome de Svalbard: uma canadense de Black Metal, uma polonesa e uma de darkwave da Bielorússia. Porém, a banda Svalbard da qual falaremos hoje é uma criativa e ousada representante do Post Hardcore moderno.
A Svalbard é uma banda britânica de post-hardcore originária de Bristol, Inglaterra. Formada em 2011, a banda nasceu da colaboração entre os vocalistas e guitarristas Serena Cherry e Liam Phelan, e do baterista Mark Lilley. Desde 2020, o grupo conta também com o baixista Matt Francis. O som de Svalbard é uma fusão complexa que abrange post-hardcore, post-metal, black metal, crust punk, post-rock e shoegaze, demonstrando uma diversidade impressionante e um compromisso com a ousadia.
A Svalbard lançou seu primeiro álbum, “One Day All This Will End”, em 2015, após assinar com a Holy Roar Records. Este lançamento foi seguido pelo aclamado “It’s Hard to Have Hope” em 2018, um álbum carregado de temas sociais e políticos influenciados pelo feminismo. Em 2020, em meio a controvérsias envolvendo a Holy Roar, a banda lançou “When I Die, Will I Get Better?” pela Church Road Records, recebendo elogios críticos e consolidando ainda mais seu lugar no cenário musical.
Em 2023, sob o selo da Nuclear Blast Records, Svalbard lançou “The Weight of the Mask”. Este trabalho reflete sua evolução na musicalidade proposta, explorando temas de saúde mental com uma honestidade brutal. O produtor Lewis Johns, descrito por Serena como o “quinto membro da banda”, continua a ser uma peça chave no desenvolvimento do som único de Svalbard.
A trajetória da Svalbard é marcada não apenas por sua música impactante, mas também pelo seu ativismo em questões sociais, tornando-os uma voz poderosa e relevante na música contemporânea.
“The Weight of the Mask”: Um Manifesto Post-Hardcore da banda Svalbard
Desde sua formação em 2011, a banda Svalbard tem se negado a fincar raízes num único gênero, tanto que suas influências colecionam nomes que vão de Alcest, Explosions in the Sky e Nasum até Mogwai, Helmet e Slipknot. Em sua fusão única de Black Metal, Post-Rock, D-Beat, Shoegaze, Hardcore e Post-Metal, o grupo britânico é exemplar por sua autenticidade indiscutível ao costurar estas referências.
Em “The Weight of the Mask”, Svalbard nos entrega mais do que apenas música; eles nos oferecem um manifesto de resistência emocional e resiliência psicológica. O disco foi concebido nas frias salas de ensaio em Bristol, com membros da banda percorrendo longas distâncias para se dedicar à criação deste trabalho ao lado do produtor Lewis Johns.
Aliás, o produtor é peça importantíssima para o resultado final do disco, porque captura habilmente tanto o peso quanto a beleza das composições do Svalbard. Serena Cherry, vocalista e guitarrista, inclusive compartilhou que gravar este álbum foi uma experiência catártica, com lágrimas frequentes durante as sessões de gravação, como um testemunho da intensidade emocional que “The Weight of the Mask” representa.
Svalbard: Minha Resenha de “The Weight of the Mask”
Desde o início, “The Weight of the Mask” estabelece-se como um manifesto emocional. A faixa de abertura, “Faking It”, imediatamente coloca o ouvinte em contato com a realidade crua da banda, introduzindo uma mistura intensa de vocais agressivos e melodias cativantes que preparam o terreno para uma experiência auditiva sem igual. As técnicas vocais de Serena, alternando entre gritos dilacerantes e um canto mais etéreo, criam um contraste que é tanto perturbador quanto belamente harmonioso.
Ao mergulhar nas camadas do álbum, percebe-se a habilidade incontestável da Svalbard em tecer complexidade musical com honestidade lírica. “Eternal Spirits”, por exemplo, não apenas homenageia ícones perdidos como Joey Jordison, mas também serve como um lembrete da mortalidade e das emoções persistentes que a música pode evocar. A inclusão de backing vocals etéreos adiciona uma dimensão quase sobrenatural à faixa, destacando a habilidade da banda em usar sua música para explorar e expressar emoções profundas.
A musicalidade que a banda entrega é impressionante, pois ao mesmo tempo que existem referências inegáveis, elas são diluídas de tal forma em sua personalidade musical que parecem tomadas para si.
Em faixas como “Open the Cages”, a influência do blackgaze do Alcest pode ser notada nas guitarras etéreas e na atmosfera sonhadora intercalada com explosões de black metal, criando um contraste dramático entre beleza e brutalidade. Já na citaada “Faking It” as influências do Explosions in the Sky refletem através de suas construções instrumentais expansivas e dinâmicas crescentes, onde camadas de guitarra se acumulam gradualmente para culminar em clímax emocionalmente carregados.
Os opostos de peso e velocidade também são atritados para criar dinâmica envolvente no repertório. Se em “November”, a influência de Mogwai é evidente na maneira como a banda utiliza a dinâmica instrumental para evocar emoções profundas, alternando entre momentos de quietude introspectiva e explosões sônicas poderosas; por outro lado, a agressividade à lá grindcore que me lembrou do Nasum ressoa em “Pillar in the Sand” (onde a velocidade e a ferocidade das batidas e dos riffs pontuam a música, intensificando o impacto emocional).
A verve mais alternativa, por sua vez, vem em faixas como “How to Swim Down” e “Defiance”. Enquanto a primeira mostra influências de Helmet no uso de riffs de guitarra pesados e concisos, e uma entrega vocal direta que adiciona uma sensação de urgência e peso, característica do metal alternativo, a segunda se inspira claramente na energia implacável e na intensidade de Slipknot, com seus riffs pesados e vocais agressivos que canalizam a brutalidade e a força típicas do metal.
Entre as duas melhores faixas do trabalho aos meus ouvidos está “Be My Tomb”, uma música que eleva o ritmo enquanto explora temas de autodescoberta e resiliência emocional. A outra é a já citada “Pillar in the Sand”, que transporta o ouvinte para um lugar de nostalgia e reflexão, provando que a banda pode ser tanto introspectiva quanto explosiva.
As letras destas músicas possuem alto teor emocional e autobiográfico, afinal as letras tentam capturar a luta interna contínua e a busca por resiliência como representações das emoções pessoais dos membros da banda. Até por isso, as letras de “The Weight of the Mask” são uma parte fundamental da expressão artística do Svalbard, servindo como um meio de catarse e discussão sobre questões importantes relacionadas à saúde mental.
A produção de Lewis Johns merece uma análise à parte. Johns conseguiu capturar a essência do post-hardcore e do blackgaze enquanto empurra os limites sonoros da banda para novos territórios de timbres e texturas. Cada faixa é uma prova da química entre o produtor e a banda, com mixagens que realçam tanto os tempestuosos acordes de guitarra quanto os momentos mais introspectivos. Atuando quase como um quinto membro da banda, Lewis Johns parece entender profundamente tanto o peso quanto a beleza do som da Svalbard, conseguindo equilibrar os aspectos dinâmicos e atmosféricos de suas músicas, permitindo que cada elemento sonoro contribuísse para uma expressão coesa e impactante.
Conclusão
“The Weight of the Mask” não é apenas um álbum para ser ouvido; é para ser sentido. Com cada nota, Svalbard nos convida a olhar sob a superfície de nossas próprias máscaras, desafiando-nos a confrontar e, talvez, entender um pouco melhor nossas próprias lutas internas. É um álbum que permanecerá relevante, não apenas pela sua composição e execução impecáveis, mas pela sua honestidade musical e lírica.
Não perca a oportunidade de explorar mais sobre Svalbard e “The Weight of the Mask”. Clique aqui e ouça o álbum na íntegra.
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